domingo, 28 de setembro de 2008

MEU PRIMEIRO VIOLÃO

Num certo dia qualquer eu estava na casa de Marcos Monteiro quando vi seu irmão Alceu colecionando alguns discos. Alice Cooper, Ozzi Osborne, Pink Floyd e por aí. Nesse tempo eu ainda não conhecia tantos roqueiros e foi através dele e depois de Gilson Menezes que me ensinou os primeiros acordes de violão que fiquei conhecendo o mundo do rock and roll. Alceu cantava e tocava muito bem. Era um cara despreocupado com a vida e vez em quando eu o encontrava sentado no meio fio da sua casa dedilhando o pinho. Daí veio o meu interesse em aprender música. Eu tinha 13 anos e já ganhava alguns trocados pintando placas de estradas, quando estava com dinheiro suficiente para comprar o instrumento, falei com minha mãe para que autorizasse a compra ela falou com um tom de desaprovação: fale com o seu pai. Esperei meu pai chegar de Tobias Barreto, onde trabalhava e ele falou: se você tem o dinheiro pode comprar. feliz da vida liguei para meu irmão Adherbal que morava em Salvador e mandei o dinheiro para que ele comprasse. Depois de alguns dias chegou meu primeiro violão. Não era dos melhores, mas era suficiente para começar, da marca Reis dos Violões, era todo preto com o tampo vermelho. No primeiro dia de aula cheguei em casa tocando “Chuá-chuá e cada macaco no seu galho”. Meu pai vendo minha dificuldade em afinar o instrumento me pediu e começou a dedilha-lo, fiquei surpreso pois não conhecia esse seu dom e ele foi lá no fundo do baú e trouxe uma fotografia sua de quando era fuzileiro naval tocando o instrumento. Estava explicado.

EXPLOSÃO NA SORVETERIA

Como era costume da turma, o jogo de bola no oitão da igreja corria solto até que explosões e rajadas de fogos de artifícios em grande volume foram ouvidas parecendo o ápice de uma importante festa - a sorveteria de seu Agnaldo ficava na esquina do segundo trecho da Rua Acrízio Garcez e a partir do mês de abril comercializava produtos pirotécnicos. Engraçado é que o que me trás mais recordações de lá não são os fogos mais o picolé de caldo-de-cana -, a fumaça preta logo se espalhou pelo quarteirão. Enquanto os adultos apareciam nas portas das casas, atordoados e buscando saber do que se tratava aquele barulho, a molecada corria ao local do incidente imaginando ser alguma disputa entre turmas. Quando chegamos o seu Agnaldo estava sendo retirado do local em estado de choque. Felizmente ninguém sofreu queimaduras, mas o coitado do comerciante teve que ser internado por alguns meses. Prejuízo mesmo sofreu a turma, afinal, nossos pais sempre se referiam a respeito do perigo dos fogos de artifícios, eu mesmo já sentira na pele, mas a sensação de ver a limalha queimando é indescritível. Os anos passaram e as tradições vêm sofrendo os reveses da modernidade e do bom senso.

sábado, 27 de setembro de 2008

O CINEMA DO PADRE

Quando Pe Mário chegou da Itália, imaginou encontrar onça e índios andando pelas ruas. Máquina fotográfica a tira-colo não perdia oportunidade de flagrar alguma coisa pitoresca. Algum tempo depois, durante a semana santa passou a fazer projeções dos seus achados no oitão da igreja. Milhares de pessoas traziam cadeiras e esperavam pela novidade. Olha eu ali, esse é fulano de tal, de repente um negrinho pelado subindo nu em um mamoeiro e todos caiam na risada. Fazendo seus comentários num megafone o jovem padre ia conquistando a comunidade. Enquanto a projeção se realizava as luzes da praça ficavam apagadas formando um imenso cinema ao ar livre.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

CAGARAM NO COPO

Eu ainda não tinha idade para freqüentar clubes e boates. Em Lagarto havia uma de nome Bandeira 2, de propriedade do funcionário do Banco do Brasil Rinaldo Santos, que era considerada de muito luxo para a cidade. Ficava no andar superior de um prédio localizado na praça da rodoviária. Vez em quando artistas famosos vinham se apresentar movimentando toda a sociedade lagartense. Era um desfile de pessoas bem trajadas e bonitas para o evento. Se eu não estiver enganado era o Cassino de Servilha que iria se apresentar naquela noite. Não sei dizer se foi antes ou depois da apresentação da grande banda e a bebida já alterava os ânimos de muitos jovens. Depois vieram as confusões até que alguém (No dia seguinte a festa toda a cidade já comentava o incidente) chega ao extremo de subir na mesa e defecar num copo de bebida. Era comum aos jovens “filhos de papai” demonstrarem sua falta de educação e arrogância, ou batendo nos rapazes mais pobres ou mesmo demonstrando estarem acima da lei realizarem todo tipo de irresponsabilidade. Contrariado com a humilhação sofrida Rinaldo resolveu fechar a boate. Como lembrança daquela casa noturna, tenho guardado um cartão de credencial para entrada da festa.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

NO BECO DE MIRENA

Antigamente a iniciação sexual dos garotos se fazia nos cabarés. Minha família era muito religiosa e jamais meus pais poderiam imaginar tal coisa para os filhos. Apesar disso nunca fomos santos mais também sempre evitávamos freqüentar lugares do tipo. Até jogar sinuca era proibido, entrar em bares nem pensar. Certa feita após sair de um baile na AAL, Bututim me chamou para tomar umas cervejas na casa de uma amiga e lá vamos nós. Primeiro paramos no final da Rua Mal. Deodoro e depois descemos o Beco de Mirena até uma casa onde funcionava uma boate popular. Somente uma luz vermelha iluminava aquele ambiente pouco amigável. Alguns santos colocados atrás da porta principal mal iluminados por tocos de velas. Eu sentia nojo de tudo, os copos que eu não podia ver a qualidade da limpeza, até a cerveja meio quente. Nisso chega umas das damas e chama Bututim até um quarto. Fiquei assustado ao me sentir sozinho naquele ambiente. Passado algum tempo chegou uma garota e começou a conversar comigo. Disse que era nova no ramo e que assim como eu nós podíamos nos ajudar. Ainda meio desconfiado fui cedendo aos seus encantos. Já sob o efeito da bebida nada mais tinha importância. No dia seguinte algo não estava funcionando bem para mim, passei o dia me cheirando e os amigos me perguntavam: o que você tem ? nada, nada, respondia. Era o cheiro do amor maldito que me impregnava.

BUTUTIM E O PARADA SEIS

Lagarto já possuía o Los Guaranis, mas um novo grupo musical começava a surgir, era o Parada Seis. Composto por Rinaldo Prata no baixo, Raimundo na guitarra, Geraldo na percussão e Bututim na bateria, eles ensaiavam no quartinho nos fundos da casa de seu Nicolau na rua Senhor do Bonfim. Meu irmão Adherbal era o técnico e empresário da banda. A aparelhagem era bastante precária, mas para época, as exigências eram quase nenhuma. Foi na primeira apresentação no salão da AAL que ousei convidar a primeira garota para dançar. Um e outro pisão ali outro aqui, até que a donzela foi me ensinando os primeiro passos de dançarino. Olha que nos anos setenta eu e meu amigo Manoel depois conhecido por Michael usando os confortáveis sapatos cavalo-de-aço muitas vezes mostramos nossas proezas como dançarinos de black music. Mas a história aqui é outra, Bututim se gabava de ser um grande baterista. Foi num baile realizado na AABB no prédio onde hoje funciona o Rotary Club que ele mostrou suas proezas. O salão repleto de dançarinos e a banda tocando os rocks da época. De repente a banda faz a mudança de uma música para outra e o desenvolto baterista toca a baqueta no prato com mais força que o de costume. O prato é lançado ao ar e voa sobre as cabeças dos animados dançarinos indo parar longe. Ninguém saiu ferido mas até hoje Bututim garante que a história não é verdadeira. Realmente não posso afirmar pois não estava lá, mas que é verdade isso muita gente afirma.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

CADÊ OS DOIDOS ?

Eu não sei por que as cidades tendem a crescer! No tempo que eu era garoto, Lagarto possuía uma leva de doidos de dá inveja a qualquer hospício. Maria do Céu ou das flores era uma jovem que vivia vestida de noiva e vez em quando aparecia pelas ruas carregando um buquê, dizem que ela ficou maluca por ter sido abandonada no altar. Poloxia era mais bêbada do que doida e vivia dizendo palavrões pelas ruas. Zé do Egito era o intelectual, vestia um terno surrado, falava manso e andava com um maço de papeis velhos debaixo do braço pregando a bíblia. Tinha o doidinho de Paripiranga que tocava um tarol rua baixo rua acima e sempre de costas, mas na semana santa se vestia de Jesus Cristo, colocava uma cruz nas costa e saia arrastando pela cidade. Certa vez inclusive, ali em frente ao Hotel Palace (atual Centro Comercial José Augusto Vieira) assisti ele pregar: quarta estação Jesus cai... E lá vai o doido pro esgoto, acabando por rachar a cabeça e sair todo ensanguentado. Cú-de-chita era outro mais bêbado que doido, Olímpio era violento e gostava de jogar pedras na garotada. Já Marinheiro era doido mesmo. E tem gente que diz que o progresso e que endoida as pessoas, pode?

A PIPOCA DE SEU MENINO

Seu menino era um velho pipoqueiro que mantinha seu carrinho no canto da Pça. Filomeno Hora defronte a casa do Seu Dionízio e por muitos e muitos anos todos os fins de tarde ali estava ele esperando a clientela. Sair do Colégio para encontrar os colegas era o costume diário e naturalmente regado ao saquinho de pipoca do seu menino. O cheiro se fazia sentir ao longe. Em determinados momentos a quantidade de pessoas era grande e o velho pipoqueiro se danava e fechava a portinha do carro não atendendo a ninguém. Depois dos ânimos acalmados voltava a torrar o milho. Às vezes ficávamos esperando a pipoca sair quentinha, mas na hora de entregar o saquinho ao comprador algum ricaço parava defronte do carrinho e a pipoca ia parar nas mãos do felizardo. Então começava a reclamação. Seu menino se mantinha calado como se nada tivesse acontecido e continuava a torrar sua pipoca. Outro dia encontrei o velho pipoqueiro e perguntei Seu menino cadê a pipoca? E ele todo feliz da vida respondeu: menino não agüento mais arrastar o carro não!
PS: O velho pipoqueiro partiu e agora anda pelo céu fazendo pipoca para os anjinhos

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

UM CIGARRINHO PREU FUMAR ?!

Certo dia pela manhã, um casal de Hippes se arranchou no palanque da praça. Vestidos com roupas de inspiração indiana e índio americano fabricavam artesanato de metal o que atraiu a curiosidade da garotada. Ela era uma moça muito bonita, loira de cabelos feitos longas tranças, possuía olhos azuis como um brilhante. O rapaz não sei bem seus traços devido à barba por fazer e o cabelo desregrado. Tocava violão e falava somente gírias incompreensíveis. Ficaram muitos dias ali sem que ninguém os importunassem. À noite vendiam seus badulaques o que lhes arranjava algum dinheiro. Por vezes pedia algum alimento aos moradores da vizinhança. Certo dia minha mãe falou para que ninguém se aproximasse deles porque eles fumavam maconha. Foi um espanto o que seria maconha, e ela explicou que era um cigarro que eles fumavam e todo mundo adormecia, assim podiam roubar as pessoas. Quando finalmente fiquei sabendo o verdadeiro efeito da eva passei a achar engraçado a forma infantil como minha mãe tentava esconder de nós os perigos do mundo. Durante minha adolescência não convivi com ninguém que consumisse a tal droga, fumava-se e bebia-se muito, mas desconheço alguém que tivesse utilizado tais produtos.