domingo, 26 de outubro de 2008

A PISCINA DO BREJO

Era um passa tempo um pouco deslocado do dia-a-dia, mas vez em quando a turma pegava a bicicleta e se mandava pra lá. O lugar era muito bonito, uma mata de árvores enormes e do meio da exuberante vegetação brotava água fria e cristalina que caía na piscina de cimento. Algumas mulheres lavavam roupas ao seu redor o que muitas vezes devido ao acumulo de sabão podia provocar perigosas quedas. Por ser distante da cidade, era o tipo de passa-tempo que só era utilizado nas férias. Outro dia passei por lá e vi que a velha piscina ainda servia de atração para alguns garotos que se banhavam. Quem sabe não poderia ser uma excelente opção de lazer para a comunidade?

PÃO E QSUCO

Geralmente era dia de sábado, mal chegava a tarde e a molecada se reunia no oitão da igreja para programar o que fazer. Quase sempre era ir até a perfiferia da cidade, a exemplo da Estação da Leste ou ao Rio de Jacaré. Naquele dia resolvemos ir ao rio‚ passamos na padaria da viúva que ficava na Rua D. Pedro II, compramos taiobinha. Meu parceiro de garupa era Lucas filho de Dona Caçula de Seu Raimundo de Anastácio, ela levava uma garrafa de Qsuco e o pacote de pães. Naquela época o Jacaré ficava longe, era necessário ir cedo e voltar antes do escurecer para que nossos pais não dessem por nossa falta, uma vez que não nos permitiam tomar banho no rio. A estrada ainda não era asfaltada, quando estávamos perto do rio teríamos de passar por um velho mata-burro. Lucas sentado no guidon da bicicleta acreditando na minha perícia mandou que eu acelerasse para passar sobre um dos troncos ainda resistentes. Como dizia a turma "atochei", mas a velocidade que nós íamos era demais para mirar corretamente, e o pneu dianteiro caiu na vala entre um tronco e outro. Só lembro que voei sobre Lucas e me esparramei no chão. O dedo do co-piloto ficou preso entre os raios da roda provocando uma pequena torção, mas ele heroicamente caiu sentado com o litro de Qsuco e os pães em perfeito estado. Quando chegamos na beira do rio a molecada já saltava de um lado para outro. Dias antes havia dado uma trovoada e o rio estava cheio. Metido a Johnny Weissmuller, pulei do paredão em meio ao redemoinho no meio do rio, quando tentava voltar à tona um galho de arvore submerso prendeu minha perna e foi me levando enquanto eu desesperado tentava me soltar. Finalmente consegui chegar até um lugar raso e me desvencilhar. À noite, sentado na porta de casa, refleti sobre o perigo passado, mas já imaginava uma nova ida ao rio.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

CAÍ DA JAQUEIRA

Era um domingo de verão muito quente, a Turma da Baixa reunida não sabia o que fazer, os programas tinham se tornado cansativos. Alguns diziam vamos pra bica, outros que tal uma bolinha no campinho da AABB (hoje Rotary Clube) - a turma entrava pelo oitão da casa de Seu Zequinha Aleijado e chegava até o campinho -. Alguém finalmente teve a idéia de sair andando pela periferia. Então seguimos em direção a Horta, passamos pela estrada que vai para Itabaiana e mais adiante paramos para descansar em um alpendre de um velho sítio. Então Hermenegildo e Daniel resolveram investigar o que havia de bom na redondeza. As arvores centenárias faziam uma copa altíssima que levava sombra para todo o sítio. Havia uma jaqueira cheia de limo mais com frutos que pareciam apetitosos. Eu era metido a macaco e fui logo subindo, bati numa jaca aqui outra acolá, mas nada, nenhuma madura. Finalmente descobri uma que as abelhas estavam furando e pensei: só pode estar boa! Como um gato, fui me esticando até alcançar o fruto. O galho estava podre e não suportou o meu peso e lá vai ladeira a baixo uma mistura de Floriano jaca e galho. Por pura sorte cai dentro de um buraco que estava sendo aterrado com restos de folhas e troncos de bananeiras. Nada sofri, mas o tombo valeu como experiência. Felizmente a jaca estava deliciosa. Após o banquete seguimos até uma fonte que existia no povoado Limoeiro e era formada por um minante que brotava entre as raízes de uma grande arvore. De um lado a água era cristalina e servia para beber, do outro era de um branco azulado onde as mulheres lavavam roupas. Dali seguimos por um corredor todo coberto de grandes arvores até chegarmos à estrada que vai para Itabaiana. Final de tarde, final de passeio, hora de voltar para casa.

UMA GAROTA DIFERENTE

Tem gente que parece vir ao mundo na época errada. Penso eu que uma dessas é Vera(nice), irmã de João Capelão. Quando garota escandalizava os mais velhos por seu jeito despojado e irreverente de ser. Era meio gordinha e possuía um par de seios enormes e lindos, seu rosto arredondado semelhava-se aos da Fafá de Belém, e era esse seu apelido. Andava sempre com vestidos soltos que salientavam suas formas e um belo sorriso sincero. Tratava todos com muito carinho e era sempre uma boa prosa. Certa vez a encontrei pela rua com um violão sobre o ombro para escândalo dos puritanos. Vera era a meia-irmã ou mesmo namorada que todo garoto da minha época gostaria de ter tido. Não se importava com a opinião dos outros e viver para ela era o suficiente. Todos os garotos tinham o maior respeito e admiração por ela. Nos bailes não recusava convite para dançar e ser gordinha não era motivo para se cansar, era um excelente dançarina de discoteca. Uma garota diferente, mas que todas as outras tinham vontade e medo de ser como ela era.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

ESTAÇÃO DA LESTE

Era difícil chegar até a velha estação. No final da Rua Filadelfo Dória existia uma estradinha de terra onde somente passavam pessoas a pé e após andar algum tempo e lá estava o que deveria ser a Estação da Leste, por aonde o progresso chegaria. Naquele lugar desolador encontramos somente vestígios deixados por mendigos. Em frente uma bela construção de pedras seria a casa do chefe da estação, algumas pessoas paupérrimas sentadas na porta como a estranhar aquele grupo de moleques. Resolvemos entrar no corte cavado pelos operários da ferrovia e caminhamos alguns quilômetros até encontrar as onze casas onde morariam os futuros empregados. Ali ficamos imaginando a beleza que seria ver o trem apitando na curva para chegar à estação. O tempo passou e certo dia resolvi compor uma música em homenagem à velha estação, que começa dizendo: “Quem ficou na estação esperando um dia o apito do trem... e a cansada esperança de uma viajem nos trilhos que vem.... foi o final de um apito estrada de ferro que nunca passou ou uma locomotiva Maria Fumaça soltando vapor” felizmente a velha estação é hoje uma creche a comandar os vagões da infância e da educação. Um belo exemplo de como o bem público pode ser aproveitado não importando o descaso cometido no passado.

A MÁQUINA FOTOGRÁFICA

Num certo dia Zé Dantas inventou de comprar uma máquina fotográfica. Ele estava trabalhando no Banco do Brasil como ofice boy e já possuía uma pequena renda. Todos da Turma da Baixa se comprometeram em pagar as prestações. No primeiro final de semana testamos a máquina na fazenda do Avô de Cláudio no interior de Riachão do Dantas, depois no Rio Piauí e na Estação da leste. Tudo sendo devidamente registrado. Quando venceu a primeira prestação somente eu e Dantas possuíamos a parcela referente. Como ninguém mais se dispôs a pagar foi ele pedir ao seu Manoel dono do foto Leonam para receber a máquina de volta. Até que ele foi compreensivo e terminando assim a minha primeira sociedade. De lembrança ainda guardo algumas fotografias desses passeios que marcaram as aventuras da Ganga of Down.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

GANG OF DOWN

Zé Dantas era o líder, João Capelão o intelectual, Hermenegildo o amigo de todos, Claudino o mais arredio (falecido), Celso de Zélia (galo rouco) o malucão, Daniel de Felismino o caçula, Marcos Monteiro o boy, Junho de seu Netinho do bar o magrão, Cláudio o independente e naturalmente eu. O nome original era Turma da Baixa, devido o ponto de encontro ser na casa de João Capelão, que ficava quase no final da Av. Leandro Maciel. Como era ele metido a falar inglês adotamos o titulo naquela. Era uma molecada entre 14 e 17 anos que só pensava em se divertir. Seu Valdevino pai de João era um senhor rabugento, mas que nada fazia além de reclamar. O velho não gostava de Zé Dantas devido sua cara de pau. Certo dia Zé Dantas chegou procurando João e seu Valdevino informou que ele não se encontrava mesmo assim ele foi entrando mudando o canal da televisão para assistir seu seriado preferido, Nakia Parker, o velho ficou uma arara, reclamou e disse para ele não aparecer mais em sua casa, mas nada fez, além disso. João era apaixonado pela música de Elton John e montou no seu quarto a Boate A Patota, onde a gente se reunia para dançar, conversar e naturalmente ouvir rock. As meninas da rua sempre estavam presentes. Além das cinco irmãs de João ainda vinham às filhas de seu Cantilde, de seu João barbeiro, as de Santo do Brejo, as irmãs de Cláudio e mais as colegas de escola. Dona Maria, mãe de João era uma segunda mãe para todos, compreendia as vontades daquele grupo de adolescentes e muitas vezes participava das nossas conversas.

O VAMPIRO E O RATO

Figuras estranhas ou socialmente deslocadas são comuns em todas as cidades. Aqui em Lagarto não seria diferente e tivemos também as nossas. Tonho Saruê e Zé Fogo eram nossos representantes. O primeiro um carroceiro e o segundo um faz tudo. Tonho Saruê eu conheci quando morava em uma construção inacabada na praça da quadra - hoje praça do forródromo -, lembro que ele prestava algum serviço ao hospital e fazia transporte de todo tipo de mercadoria em sua carroça. Sujeito de pouca conversa, aquele baixinho provocava medo na gurizada que achava ser ele um vampiro. O velho Zé fogo era um fanfarrão que vivia fazendo pequenos serviços do centro da cidade. Quando Lagarto ainda não possuía estação rodoviária e o ponto de ônibus ficava na esquina das ruas Laudelino Freire com Lupicínio Barros, o dito sujeito trabalhava como carregador de malas ou ficava perambulando atrás de algum trocado. A sua fama de gatuno era grande, entretanto não havia outra pessoa para prestar o serviço de carregador. Várias vezes era ele pego com a "mão-na-massa", em uma delas saiu carregando um lombo com a dona da casa correndo atrás dele com uma vassoura, noutra roubou um despertador que acabou tocando ainda dentro da casa da vítima, em mais uma quando estava levando um gato do dono do posto Esso, colocou o gato próximo ao radiador de um carro que trocava o óleo do motor e quando o motorista deu a partida o gato foi despedaçado. Finalmente o motivo da maior gozação contra o pobre Zé Fogo: Certa vez, o dito roubou um galo e assim como o despertador, ainda dentro da casa da vítima o danado do galo soltou o canto. Então, quando alguém queria gozar da cara dele, ou fazia o cocoricó do bicho ou perguntava: Zé Fogo, cadê o galo? Em resposta um palavrão: Tá no c... da mãe!