domingo, 29 de junho de 2008

AS AULAS DE JUDÔ DE ADAUTO

Adauto‚ filho do seu Antônio do INSS montou na garagem de sua casa um tatame para treinar artes marciais. Numa certa tarde quando saiamos do colégio ele convidou a mim, Marcos Monteiro e Galo Rouco (Celso de Zélia) para treinarmos com ele. Metido a Bruce Lee não perdoava os adversários até que propomos uma luta dos três contra ele alegando sua superioridade. Cheio de vaidade topou na hora. Claro que ele era mais bem preparado que nós, suas primeiras pernadas já doía bastante até que um dos três acertou um golpe e ele caiu na lona. Aproveitamos seu momento de fraqueza e treinamos nossos golpes. Sufocado ele levantou cheio de ira e partiu para a brigar verdadeira. Inicialmente fomos agüentando seus golpes, mas depois quando as canelas e braços não suportavam mais, o melhor foi sair correndo. Mesmo assim ele não desistiu e partiu atrás de nós. Depois desse dia Adauto nunca mais nos chamou para treinarmos com ele.

O VELHO LUA

Lembro bem daquela noite. A família acabara de chegar de Campo do Brito onde ocorrera o sepultamento de minha avó Maria (mãe do meu pai). Todos se recolheram rapidamente enquanto lá fora as pessoas começavam a se aglomerar em torno do coreto da Praça da Piedade. Olhei pela janela do meu quarto e vi quando os políticos chegavam para o comício. Eram eleitores e puxa-sacos se acotovelando. Após algumas breves falas eis que chega Luiz Gonzaga. Naquela época não havia esse negócio de showmício. Usando apenas sua sanfona e um microfone ele foi distribuindo sucessos e mais sucessos. O povo que assistia vibrava com suas histórias. Finalmente o maior sucesso de todos "Asa Branca". Todos cantavam emocionados. Infelizmente, um momento único daquele eu não pude está agarrado a mureta do coreto para ver o velho lua de perto.

domingo, 15 de junho de 2008

AS FÉRIAS NO BRITO

No meu tempo de menino as aulas começavam em março, paravam no final de junho e retornavam no início de agosto. No final de novembro os bons alunos já estavam de férias e havia apenas a recuperação final realizada antes do natal. As férias do meio do ano por serem mais curtas eram utilizadas pela minha família para realizarmos passeios enquanto a do final do ano podíamos ir passar muitos dias nas casas dos tios. Quando nossos primos vindos de Belo Horizonte chegavam a Campo do Brito era hora de se mudar pra casa do meu avô paterno. Naquela tranqüila cidade nos juntávamos aos filhos do tio Buia e da tia Oscarina para aprontar. Uma das brincadeiras favoritas era subir na pitombeira que existia atrás da loja do meu avô e depois pular de cima dos fardos de tecidos. Quando tia Toinha descobria a brincadeira perigosa colocava todo mundo de castigo e tínhamos que ir procurar outro divertimento. Às vezes era visitar um antigo tanque na entrada da cidade, outras era ir brincar no parque que ficava ao lado da igreja matriz. Foi numa desses dias quando eu metido a macaco como sempre resolvi andar na escada usando apenas as pernas para me segurar, despenquei e abri os lábios no chão. Depois do chororô e dos pontos feitos por minha tia América, recebi de consolo algumas balas do altar de Cosme e Damião que ela possuía. Saudade mesmo era do colo da minha avó Maria e ainda hoje quando visito aquela velha casa sinto sua presença cheia de amor.

terça-feira, 10 de junho de 2008

ELMO E AS LARANJAS

Certa tarde enquanto a bola rolava no oitão da igreja, Toinho filho do seu Arthur Reis, chamou a turma para ir até o sítio do seu pai para chupar laranjas. Elmo não perdeu tempo e foi buscar seu carro-de-mão para trazer alguns frutos extras. Pegamos as bicicletas e lá fomos nós. Naquela época a Cidade Nova ficava muito longe. Ou será que não? Seguimos pela Rua de Simão Dias até o cruzamento dos caminhos que seguiam para a Catita e para nosso destino. A partir de então acabava o calçamento de paralelepípedo e era piçarra e areia até o sítio. Elmo tinha fama de comer um jaca sozinho, um cuscuz e uma dúzia de pão. Naquele dia ele queria mostrar mais, passamos algum tempo pulando de galho em galho e nos deliciando com os frutos tirados do pé. Em seguida bebemos da água milagrosa que brotava do antigo casarão do sítio e iniciamos o retorno. Elmo todo suado puxando seu carro de mão lotado de laranjas fungava e dizia que ninguém chuparia de suas laranjas quando chegássemos ao oitão da igreja. Próximo à bodega do gancho uma cobra coral se enrolou no aro da bicicleta de Lulu filho de seu Ourives fazendo o ciclista levar um pequeno tombo do susto. Já no oitão da igreja enquanto o jogo de bola retornava, Elmo resolveu fazer uma aposta que chuparia 100 laranjas. Algum tempo depois já cansado e ofegante completava seu objetivo. Ele faleceu ainda jovem comemorando a vitória do seu candidato a prefeito em plena praça da piedade. Dizem ter sido infarto. Para homenageá-lo só as lembranças das incontáveis brincadeiras que organizamos. Lulu e seu irmão Bibia também tiveram um fim trágico. Era o micareta de Boquim, eles foram com uns primos brincar e quando retornavam o carro bateu com outro e somente o motorista se salvou. Creio que foi o maior enterro que aconteceu em Lagarto. Os caixões seguiam um atrás do outro vindos da Praça Filomeno Hora. Durante muito tempo, quando eu pensava em ir para alguma festa nas cidades vizinhas e pedia a minha mãe sua autorização, ela sempre frisava: Você não lembra do que aconteceu com seus amigos? Você poderia até ter sido um deles. Mas se você quiser ir eu não vou impedir. Era o bastante.