Enoque Araújo é um cidadão cheio de manias e excentricidades, mas como todos seus irmãos de uma inteligência inesgotável. Além de Jornalista sempre é um grande batalhador e defensor dos direitos políticos dos trabalhadores. Esquerdista por natureza sempre teve suas posições polemizadas e poucas entendidas numa sociedade conservadora como a lagartense. Mas aqui vai uma passagem além do que o bom senso e costumes possam merecer. Era uma noite de sábado e naqueles tempos costumávamos freqüentar a churrascaria do Pedro que ficava ao lado da estação Rodoviária. Dezenas de mesas ocupavam a rua e a sociedade local para lá fluía nos finais de semana. Enoque, João Brasileiro (seu irmão) Edilelson de Zé da manteiga, Paulo Correa, Marcos Monteiro, Hermenegildo, Ninha irmã de Enoque e tantos outros que não mais recordo estavam naquele bate papo animado. Toca-se um violão aqui, fala de outro assunto ali e a noite parecia que terminaria mais cedo. Finalmente. Enoque teve uma daquelas idéias brilhantes que só o álcool costuma produzir, propôs realizar naquele instante um simpósio para tratar da importância fisiológica e social da “merda que bate na água e da água que bate na bunda”. Seria um tratado de física ou filosofia? Não importa, deixemos o puritanismo de lado e vamos ao caso. Essa conversa tinha começado lá pela meia-noite quando a primeira rodada de cerveja acabara de ser retirada das mesas. Lembro quando Vasconcelos, filho do proprietário da churrascaria, chegou para nós e disse: pessoal, quantas cervejas vocês ainda vão querer porque o dia já amanheceu e temos de fechar? Pois é‚ já era domingo, um novo dia e ainda muita teoria tínhamos pela frente. Marx, Hengel, Platão, Sócrates, será que os grandes mestres não poderiam solucionar aquela difícil questão? Cansados e embriagados fomos deixando a filosofia de lado e cada um foi seguindo seu caminho para casa. Passaram-se os dias e a problemática foi esquecida. Hoje em dia, fico observando como a maioria das pessoas leva a vida com muita seriedade, assumindo uma postura sisuda esquecendo o tempo das molecagens, tão fértil e descontraída.
sábado, 20 de dezembro de 2008
PRESÍDIO CABRUNCO
No meu último ano em Lagarto antes da mudança para a Bahia, juntamente alguns amigos compramos um velho Doge Dart para fazer uma fobica e brincar o carnaval. Mandamos arrancar a capota para ficar conversível, colocamos duas bocas de alto-falante presas ao pára-brisa, como a cor predominante era branca pintas umas listas como uma zebra e montamos um sambão. Colocamos o nome do bloco de Os Marginais e o carro foi batizado de Presídio cabrunco. Minha Mãe e dona Dete mãe de Adonias não gostou do nome. Fizemos fantasias de presidiário e a numeração de cada preso era a sua data de nascimento. Paulinho filho Antonio Gonçalves que tinha fama de mentir foi colocado a data de primeiro de abril sem que ele soubesse, o que ele não gostou. Começado o carnaval subíamos e descíamos as ruas de Lagarto. A música de Morais Moreira embalava os foliões naquele ano: “Eu sou o carnaval em cada esquina...” Eram dezenas de calhambeques desfilando pelas ruas da cidade. No último dia quando saiamos da bica após lavar o carro que estava todo sujo de pó, a caixa de marcha encavalou e tivemos de dirigir de ré durante todo o dia. Ao final da tarde na Praça Filomeno Hora, Adonias acabou brigando com seu irmão Jorge e foi instrumento pra todo lado, os ânimos só foram acalmados com a chegada da sua mãe. A essa altura ficamos sabendo que outras fobicas estavam fazendo apresentações na praça da rodoviária. Quando chegamos lá Raimundinho de Nego vinha descendo a escadaria da churrascaria do Pedro com um velho jeep. Resolvemos fazer um derbie da demolição. Batida daqui empurra pra lá e a gritaria aumentando atraindo os olhares dos curiosos. O pneu do doge furou e cada vez que eu acelerava sai faísca da roda. Empurrei o jeep até o paredão da churrascaria e Raimundinho veio com toda amassando o fundo do doge. Não havendo mais condições para continuar a brincadeira e a praça já repleta de assistentes, ficamos com medo da policia aparecer e resolvemos abandonar a praça. O doge não tinha mais condições de funcionar e levamos até um ferro velho onde vendemos. Foi assim nosso ultimo carnaval em Lagarto.
CAGUEI NO QUARTEL

terça-feira, 16 de dezembro de 2008
NATAL NA CASA DOS MONTALVÃOS

Ô SERRA LONGE
Eu não conhecia a serra da Miaba, então, num certo dia em companhia de Alex Dias, dos irmãos Pedro e Ricardo sobrinhos de José Correa Sobrinho e Luciano filho de Odilon Mesquita, resolvemos conhecer a famosa elevação. Saímos antes do amanhecer do dia, nas proximidades da Matinha alguns vira-latas nos receberam aos latidos. Não sei bem se foi Pedro ou Ricardo que trazendo uma espingarda velha deu um tiro que acordou os moradores do arruado. Os impropérios vieram de dentro da casa e resolvemos dar no pé. Subindo e descendo ladeiras vínhamos à serra em nossa frente, mas nada de chegar. Quando o sol já estava bastante quente paramos na beira do riacho para saborear o delicioso rango a base de farofa e sardinha. Enquanto eu estava agachado lavando o rosto nas águas do córrego eis que um tiro de revolver zumbiu no meu ouvido e quase caí na água. Quando olhei para trás era Luciano que festejava a pontaria. Atirador do Tiro de 143 acabara de acertar na cabeça de uma cobra que vinha nadando em minha direção. Ainda assustado e sem ouvir direito vi se aproximar um vaqueiro. Ele foi logo perguntando o que estávamos fazendo ali. Enquanto isso Luciano tirava com um pau a cobra de dentro da água. O homem quando viu o réptil comentou que há algum tempo ele vinha em sua caça em virtude de vários bois terem morrido devido sua picada. Algo novo ao meu conhecimento aconteceu, naquele momento ele pegou a cobra e se dirigiu a um grande formigueiro onde a colocou no buraco e como se estivesse viva ela foi desaparecendo. Disse ele que era pra proteger de alguém pisar em seus ossos e ficar envenenado. Finalmente perguntamos se estávamos longe da Miaba, ele sorriu e ao ver a caminhote da SUCAN se aproximando disse que era melhor a gente pedir carona e voltar para a cidade. Chegamos ao entardecer cansados e ao mesmo tempo frustrados de não vermos de perto a famosa serra. Somente nos anos noventa e que tive coragem de refazer o passeio e claro agora de carro. A beleza do mármore branco e dos seus córregos e cascatas, além é claro da famosa caverna, transforma o cansaço num agradável passeio.
sexta-feira, 12 de dezembro de 2008
A LIRA POPULAR

ZÉ ATOLADO
A minha casa era um centro de convivência das mais variadas pessoas, ali não se construía preconceitos raciais ou sociais. Na mesma mesa que comia o rico, comia o pobre. Minha mãe adorava servir almoço para os padres durante as festas de setembro. Mas era no dia-a-dia que as pessoas simples freqüentavam com maior freqüência. A porta dos fundos que dava para a Rua Senhor do Bonfim era o contato mais fácil. Ali ficava a cozinha e onde minha mãe trabalhava. Sempre aparecia alguém para conversar, dá uma mãozinha ou mesmo ser convidada para um lanche ou almoço. Assim, não posso deixar de registrar a presença de Deca ou Zé Atolado. Era ele um sujeito simplório quase da família e que freqüentava a casa desde garoto. Trabalhava como ajudante de pedreiro, mas costumeiramente era enganado pelos contratadores dos seus serviços, uma vez que era analfabeto e não conhecia o valor das cédulas. De família pobre conhecida por "letrados", morava com sua mãe no bairro Pacheco. Motivo de risos por sua maneira infantil comia muito pouco, era franzino e não gostava de banho. Quando lhe era oferecido almoço dizia que só queria um cafezinho. Gostava de ouvir rádio e era fã de Josa o Vaqueiro do Sertão. Quando diziam a ele que a rádio estava lhe mandado um alô ficava todo contente e cantava a música “Na sombra da jaqueira”. Certa feita os pedreiros de uma construção que meu pai fazia resolveram dar um banho em Deca, ele ficou danado, afinal banho era vaidade demais. O resultado é que ele ficou alguns dias doente e desapareceu por vários meses com raiva do pessoal. Mas como na sua inocência não ficavam mágoas, sabendo que meu pai se achava adoentado apareceu para uma visita. Ele costumava chamá-lo de seu Adalbelto. Sim, o nome Zé Atolado foi dado justamente porque quando preparava a masseira acabava se misturando ao material. Há poucos anos atrás morreu Deca no hospital João Alves em Aracaju e o laudo do necrotério acusou a morte por inanição. Não que lhe faltasse quem lhes desse trabalho ou comida, mas na sua simplicidade se negava a receber pelo que não trabalhou. Só um cafezinho!
ACORDANDO COM MÚSICA
Como dizem os antigos: "nasci e me criei" ouvindo música. Minha família tinha a tradição de gostar dessa arte. Um avô do meu pai tocava na banda de música de Campo do Brito ainda no século XIX. O meu avô paterno era músico dessa mesma banda. Meu pai e alguns dos seus irmãos tocavam violão e acordeom. Meu bisavô Hipólito Santos era músico e conduzia a Euterpe Lagartense. Meu avô materno seguia os passos do seu pai. Minha irmã Marielza tocava acordeom e piano. Meu irmão Adherbal foi sócio da banda Parada Seis. Meu irmão Hermes é um grande colecionador de boleros. Meu irmão Epitácio também mexe com alguns instrumentos e eu o que mais se dedicou a, arte batalhei durante vinte e dois anos. Afinal, uma família de músicos. O mais interessante é que sempre houve democracia quantos aos nossos gostos e preferências musicais e a prova disso é que todos tinham o seu momento de usufruir da radiola. Mal o dia amanhecia e tava lá meu pai acordando a todos ao som de dobrados da banda da policia militar do estado de São Paulo ou do Corpo de Fuzileiros Navais, num outro dia com Gerson Filho puxando a sanfona ou ainda Amália Rodrigues e seus fados. Eu era apaixonado pelos Beatles e existia lá em casa metade do LP os reis do Iê, Iê, Iê, metade porque o disco estava quebrado até a segunda faixa. Algum tempo depois meu pai comprou um acordeom e tome valsas e forró. Vieram as músicas sacras, minha mãe depois de visitar Aparecida do Norte trouxe uma gravação da missa da padroeira do Brasil. Durante muitos anos haja missa. Quando já estava bastante debilitada pela doença que lhe trouxe a morte eu sentava em sua cama para cantar e tocar ao violão os hinos que ela gostava de ouvir. Hoje meus filhos Thiago e Rafael continuam levando à frente o gosto pela música e já possuem seu próprio grupo. A vida se repete. Infelizmente ela é cheia de imprevistos que a torna complexa. Por um longo período a música ficou muda em nossa casa. Após a morte do meu irmão Adherbal, minha mãe não permitia ligar a radiola e somente pela televisão que os acordes teimavam em encher o lar de alegria.
quarta-feira, 3 de dezembro de 2008
TINHA ALMA DEMAIS

CARREIRA DA MOLÉSTIA
Certa feita Adonias me chamou para irmos ao sítio de seu avô "Didi", tirar caju. O dito sítio ficava próximo ao Pacheco e logo na frente tinha um tanque onde o velho mantinha alguns animais de criação. Ele foi entrando e chamando pelo avô, mas esse não respondeu. Então seguimos até os cajueiros que ficavam atrás de uma velha casa de taipa. Parece que aquela tarde não era boa para chupar caju. Logo desanimamos do passeio e resolvemos retornar para casa. Quando passávamos pelo arame que dividia o pomar do pasto da frente, eis que seu Didi pensado que nós éramos moleques roubando frutas começou a gritar e vindo em nossa direção com um facão em punho parecia que ia atacar-nos. Não conversamos, saímos correndo e ao contornar o tanque uma vaca se assustou e arremeteu contra nós. Aí foi que eu vi a situação ficar preta: de um lado o velho correndo e do outro o animal fazendo risco no chão. Não deu, outra nos enfiamos pelo arame farpado e num piscar de olho já estávamos do outro lado da cerca. Não sei se por gozação, ou não. Adonias ainda disse: “corre que vovô ta vindo e se descobrir que sou eu vai contar pra minha mãe”.
FILMANDO EM LAGARTO

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