quarta-feira, 13 de agosto de 2008

AS PLACAS DE ACRÍLICOS, ANTENAS DE TV E O PROGRESSO

Colocaram mais uma antena de televisão. Era a de número setenta e dois e ficava na casa de Zelão na Rua Laudelino Freire. Lagarto evoluía, o progresso era contado pelas "espinhas de peixe". Na praça da piedade um aparelho de TV colocado pela prefeitura atendia as necessidades da população pobre. Televisão colorida só na casa seu Nouzinho e de Ribeirinho na Praça da Piedade. Placas de acrílico nos frontais das lojas demonstravam o crescimento econômico do município. Isso era no tempo das vacas gordas da COOPERTREZE exportando fumo e laranja. Todo mundo lucrando com o progresso. Concessionária da Volkswagen na Lupicínio Barros, Padaria de Julio Modesto na Laudelino Frei até um cabeleireiro que chegara à cidade trazendo novos corte, era o "Machão" instalado no conjunto Silvio Romero. Na Praça Filomeno Hora uma barraca de revistas que vendia até maçã argentina. Lagarto vivia um período de euforia que só veio a ser barrado após o surgimento dos grupos políticos Saramandaia e Bole-Bole.

BRINCADEIRAS DE INVERNO

Bastava chover que as brincadeiras mudavam. Aproveitando a terra molha o furão era uma das apreciadas. Essa brincadeira era considerada pelos adultos um tanto perigosa, pois, ao lançar o furão esse poderia penetrar no pé provocando grave ferimento. Para quem não conhece, o furão não é nada mais que um grande prego que lançado sobre a terra ia sendo enfiado e o jogador numa sucessiva ordem de lançamentos fazia uma linha que deveria prender a linha do adversário. Outra maneira de jogar era desenhando um peixe na areia e jogar seguindo seu traçado. Para os mais craques o desafio era jogar no índio, ou seja, lançar o furão fazendo-o girar sobre seu eixo e cair na posição correta no chão. O jogo de marráia ou bola de gude era outro bastante procurado. Ter uma bolinha com desenho de carambola era um privilégio devido à dificuldade de encontrá-la. O jogo era formado por dois ou mais jogadores que deveriam lançar as bolinhas em direção a última das três búicas e iniciava o jogo quem conseguisse colocar a bolinha dentro ou o mais próximo dela. Primeira, segunda, terceira, primeiro papo, segundo papo e dimanche. Retirar a bola do adversário da búica era também um objetivo. Quem primeiro atingisse o objetivo ficava com as bolinhas dos adversários. Vez em quando uma bolinha caia na búica e desaparecia era obra dos meninos que faziam armadilhas no subsolo para ganhá-las mais facilmente.

AS MELANCIAS DA CATITA

nio de Chico Rico, quando garoto, era muito briguento e vinha para a Praça da Piedade participar das nossas brincadeiras. Não perdia a oportunidade para impor suas vontades e como era bom de briga sempre a garotada acabava se submetendo. Naquela noite, a brincadeira de "cabana" - formavam-se duas tribos no primeiro momento uma tribo teria que prender a outra que para isso era necessário apenas o inimigo tocar no outro. A segunda parte da brincadeira era soltar os amigos também bastando apenas tocá-los - iria se espalhar pela cidade e não somente nas redondezas da praça da piedade. Dênio acostumado a circular pelos quatro cantos comandou a brincadeira, mas sem antes querer fazer uma briguinha com um dos garotos. Minha mãe não permitia que eu e meus irmãos nos afastássemos dali por achar perigoso e ficamos sentados na porta da casa ouvindo a conversa dos adultos. Algum tempo depois a turma reaparece em grande correria vindo pela travessa Municipal e concentram-se no correto da praça. De longe dava para se saber que alguma coisa tinha acontecido, quando enfim nos reunimos ao grupo notamos os semblantes assustados. O fato é quê, quando corriam pela Rua de Simão Dias, já no caminho da catita descobriram uma plantação de melancia e não tiveram dúvida, entraram para colher alguns frutos. Só que não esperavam a presença do dono que os recebeu com tiros de espingarda. Felizmente os cartuchos utilizados só contiam sal que provocaram apenas algumas pequenas queimaduras e nada mais sofreram. Ainda bem que detesto melancia e dessa aventura malograda fui salvo. Quanto ao Dênio, ele ainda continuou perturbando a turma por muito tempo.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

O SAMBÃO

É"ramos alunos da 6ª série do Laudelino Freire quando resolvemos montar um sambão. Sempre nos intervalos das aulas Geraldo da farmácia ou “Piga” como o conhecemos se apresentava como baterista tocando com uma régua na pulseira do relógio e no tampo da carteira. Ai todo mundo acompanhava e lembro a musica que mais a gente cantava... “Numa tarde linda eu me lembro ainda no velho cais dourado...” Havia um palco na sala que muito antes do nosso período era usado pelo Grêmio Escolar para realização de festas e lá ficavam as meninas da sala dançando. Padre Mário descobriu a algazarra e proibiu a continuação da brincadeira. A partir dali passamos a ensaiar na casa de Marcos Monteiro, a essa altura alguns instrumentos foram acrescentados, mas o grupo musical morreu por ai mesmo.

O SACO DE RISADAS

Vou preservar sua identidade por respeito e apreço que tenho a essa professora. Eu estudava na 6ª série no Laudelino Freire quando o fato aconteceu. Meu irmão Adherbal morava em Brasília e vindo passear em Lagarto me presenteou um saco de risada. Era um aparelho que reproduzia o som de risos ininterruptamente provocando risos generalizados. A sala de aula estava em pleno silêncio quando resolvi acionar o aparelho. Todos começaram a dar risadas e aos poucos já era impossível controlar-se. A professora também entrou na onda e soltava grande gargalhada. Muitos choravam de tanto rir até que a infeliz não suportando mais se urinou na frente dos alunos. Naquele momento pensei que estava frito mais ela juntou seus livros e saiu ainda soluçando. Alguns colegas me perguntavam esse negócio é seu? E eu fazia cara de inocente. No dia da próxima aula ela entrou toda séria e nada falou. Ah! Quanto ao saco de risadas. Guardei numa gaveta e nunca mais quis saber de suas risadas.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

A CADEIRA DO CHEFÃO

Seu Dionízio Machado era um velho político bastante respeitado, morava no antigo casarão amarelo na Praça Filomeno Hora onde meu pai costumava ir jogar gamão todas as tardes com os antigos correligionários da UDN, ou dividir uma partida de buraco com o velho caudilho. As pessoas o tratavam com grande respeito e reverência, jamais alguém se aventurava em sentar no seu lugar predileto. Aí começa nossa história. A cidade comemorava a vitória do Dr. João Almeida Rocha eleito prefeito municipal. A praça repleta de eleitores buscava uma melhor posição para receber o chope distribuído num caminhão. No meio da brincadeira começaram a distribuir penicos de plásticos para serem usados como canecas. Ganhei o meu e acabei encontrando um bom lugar encima dos barris. Lá para tantas como ainda não tinha por hábito a bebida, comecei a sentir os sintomas da embriaguez e fui parar no belo prato de farofa, arroz e carne distribuído nos fundos da casa do chefe político. Meio grogue, na primeira cadeira que encontrei vazia fui logo sentando. Por coincidência era a única vazia da sala e de balanço forrada de palhinha, depois de algumas boas balançadas acabei adormecendo nos braços do deus Baco. Ao final da tarde, meus irmãos por mim procuravam e nada de encontrar-me, finalmente entram na casa e me encontram num longo e profundo sono alcoólico. No meio do burburinho as pessoas gritavam e corriam para a porta da casa, nisso acordei e fui ver do que se tratava e não era mais que o meu pai tocando o acordeom da minha irmã e animando a festa. Pensei: estou salvo e caí na folia. Depois que os ânimos da festa foram cessando retornei para casa e tomei uma bela ducha para reanimar. Era a vitória do seu candidato e certamente meu pai não iria achar tão mau assim. Após algum tempo chega ele carregando o acordeom e falando da minha bebedeira, dizendo que as velhas irmãs fizeram de tudo para que eu saísse de sua cadeira enquanto seu Dionísio caía na risada. Certamente os puxa-sacos presentes depois do riso do velho coronel também acharam graça. Depois do comentário outras pessoas foram chegando e todos esqueceram do ocorrido.

A BALSA

Minha mãe era uma mulher dinâmica e nunca ficava sem ganhar algum dinheiro. Quando viaja estava sempre de olho nas vitrines ou em algo que poderia render uns bons trocados. Todos os anos ia a São Paulo, Rio de Janeiro e por aí a fora em busca de novidades. Sempre que meus pais viajavam faziam questão de levar quantos filhos fosse possível. Poucas vezes viajaram sozinhos, mas dessa vez eles foram ao Rio de Janeiro onde pretendiam adquirir um carro com mais espaço para o transporte da família e das compras. Hospedados em casa do meu tio Cazé, irmão do meu pai eles foram até um seu amigo que estava vendendo um carro americano que era uma maravilha. Naquela época a gasolina era barata e quanto maior e mais potente o motor o carro seria de interesse, foi só bater o olho no carro e o negócio foi fechado. Lembro quando meu pai chegou da viajem com um boné estilo português, minha mãe com um lenço na cabeça e o banco traseiro lotado de compras, buzinando e acelerando o motor na porta da casa alertando inclusive a vizinhança. Rapidamente não faltou engraçadinho para apelidar o carrão vermelho de a “Balsa” de Adalberto. Impala era seu modelo e passeávamos pelas ruas irregulares de Lagarto sob os olhares de inveja e gracejos. Algo curioso era que o velocímetro não media quilômetros, mas milhas e durante a viajem do Rio para Lagarto meu pai foi parado por um patrulheiro que o questionou: O senhor gosta de uma carreirinha não é? E meu pai todo inocente falou: seu guarda eu não passo de oitenta. Aí o policial entendeu o equívoco e orientou o afoito motorista que aliviou o pé e só chegou em casa três dias depois. Finalmente cansado de ouvir muitas gozações meu pai resolveu se livrar da balsa e o pior é que o comprador se esqueceu de efetuar o seu pagamento.

QUIUTO

Qual o garoto que na infância não desejou ter um bicho de estimação? Certo dia, resolvi criar um periquito, fui até a feira e comprei um filhote do tipo conhecido por periquito de velande. Uma espécie pequenina de forma arredondada e que na parte de baixo da asa tem as penas azuis contrastando com o verde bandeira do resto do corpo, bastante valente e vive na natureza em grandes bandos pelo sertão. Meu exemplar era ainda muito novinho e construí uma gaiola do tipo usada para papagaio. Quando ele começava a dar mostras de querer voar eu cortava as asas e ele voltava a ficar como um papagaio. Dona Ana, uma senhora baixinha que morava na rua dos fundos da minha casa, me ajudou a domesticá-lo e apelidou-o de Quiuto. Todos os dias ela vinha visitá-lo e ele já a reconhecia. Finalmente Quiuto ganhou a afeição da família. Sua gaiolinha ficava pendurada na cozinha e durante as refeições ele fazia suas algazarras. Mas num certo dia ao amanhecer o periquito não estava na gaiola procurei por todo canto e nada até que encontrei um punhado de penas na escada da casa, chorei de raiva e parti para a vingança. Cheguei à conclusão que algum gato o tinha devorado e a partir desse dia criei uma inimizade mortal com os felinos. Foi então que resolvi criar a Sociedade Secreta Inimiga dos Gatos SOSIGA. Durante muito tempo não ficou gato na vizinhança que sobrevivesse as minhas pauladas. Eu contava com a ajuda de Nanam que odiava os gatos, pois eles defecavam nas camas e cavavam o jardim da casa que ela tanto cuidava. Na verdade eu não sei por que nós humanos nos afeiçoamos tanto pelos animais. Depois do Quiuto eu ainda tive mais dois cães antes de abandonar de vez o desejo de possuí-los. Negrita foi uma cadela pastor alemão que eu ganhei de um major do 28 BC quando estudava em Aracaju e que se tornou o xodó do meu pai, inclusive morreu entre suas pernas motivado por ingestão de água sanitária deixada indevidamente em uma bacia. O outro foi um cão da raça Dobermann que eu ganhei de um cliente do Banco do Brasil, quando trabalhava em Euclides da Cunha BA, mas que eu doei a um colega após ele me atacar.