Das muitas decepções que passamos na vida acredito ter sido essa a que mais senti na pele. Em 1977 fui estudar em Aracaju e logo me integrei à primeira turma de alunos do curso de cinema do Colégio Estadual Atenheu Sergipense. Era professor Djaldino Mota Moreno, grande incentivador do cinema sergipano. Começamos com um grupo de 16 alunos e no final a equipe ficou formada por apenas seis. Produzimos muitos documentários sobre a cultura sergipana. Finalmente meu roteiro para o filme Carro de Bois foi aprovado e busquei em Lagarto alguém que possuísse um carro de qualidade. Foi na fazenda do seu Izaac da Cassuba no povoado Olhos D’água onde encontrei o ambiente propício para as filmagens. Fiquei responsável pela direção, roteiro e trilha sonora. José Oliveira Junior contra regra e layout, Evandro Curvelo contra-regra e Marcelo Deda operador de câmera. No início das filmagens tudo parecia estar dando errado a começar pelos rolos de filmes negativos que trouxemos trocados por ter a sensibilidade mais alta. A filmagem realizada em meio ao verão muito forte iria trazer problemas para a qualidade da fixação da imagem na película. Como tínhamos apenas aquele dia para filmar arrisquei tudo colocando vários tipos de filtros na lente da câmera, se o resultado não fosse bom eu substituiria o material. Quando em fim os rolos de filmes chegaram o professor Djaldino convocou a equipe e de uma maneira um tanto estranha. Pensei que uma grande bronca viria pela frente, mas para nossa surpresa ele foi logo perguntando o que tínhamos feito. A imagem capturada era de um colorido deslumbrante e quase todo o material foi aproveitado. O filme participou de todos os festivais de cinema do Brasil e somente no festival de Penedo não foi premiado. Ganhei em 1978 o premio de melhor filme sergipano e em 1984 o melhor filme até então realizado em Sergipe. No dia seguinte ao festival desembarquei em Lagarto trazendo o troféu e para minha surpresa ninguém sabia. Falei com as pessoas sobre meu sucesso e ninguém acreditou. Somente alguns dias depois quando os jornais estampavam meu feito‚ que acreditaram. Já era tarde.
sábado, 29 de novembro de 2008
O TELÉGRAFO PIFOU
Estudei com Adonias Libório durante as sétima e oitava séries, fazíamos uma turma do barulho, mas o melhor de tudo foi que um dia resolvemos montar um telégrafo para conversarmos de nossas casas. Com o manual do professor Pardal na mão construímos os aparelhos. Depois de prontos foi à vez de puxar a fiação entre nossas casas. Quando estávamos tentando passar o fio entre uma rua e outra dona Dete sua mãe descobriu e mandou interromper os trabalhos. Foi uma frustração total, mas nos livrou de um belo choque elétrico já que nossa fiação teria de passar entre os cabos de alta tensão, quem sabe até poderíamos ter sido eletrocutados. Mas que o telégrafo funcionou, funcionou!
PROFESSOR AGUIMARON MENEZES
Era ele um professor bastante conhecido na cidade, ensinava português e Literatura. Figura controvertida era conhecida por suas manias e vontades autoritárias, recebia ao mesmo tempo reprovação e respeito dos colegas devido sua capacidade como educador. Enfrentamos-nos várias vezes quando eu era aluno do curso ginasial no Colégio Salete. Certo dia ele tentando me tirar do sério, pois sabia que eu era temperamental me fez a seguinte pergunta: Como se escreve xícara? Prontamente respondi com uma nova pergunta: pra chá ou cafezinho, professor?! Fui mandado imediatamente para a diretoria. Outro dia durante aula de literatura ele voltou sua artilharia e me indagou "labareda", - era assim que ele chamava para me irritar - quem foi Arariboia? Sem pestanejar respondi: Uma mistura de arara com jibóia. Ele imediatamente juntou seu material e se dirigiu a diretoria. A turma toda o seguia e quando ele encontra Dona Anselma Montalvão fala aos berros: ou eu ou Floriano naquela sala! Dona Anselma adorava seus alunos como filhos e mandou me chamar, sentamos para conversar e os ânimos foram acalmados. Entretanto havia um professor que não batia muito comigo, Seu Bianor era pastor da Igreja Presbiteriana e certa vez durante a aula de OSPB fez comentários pouco lisonjeiros à igreja católica. Sem perder tempo o mandei respeitar os que ali presente professavam aquela religião. Ele solicitou minha suspensão, mas meu argumento foi mais forte. Mas voltando ao professor Aguimaron, todos os anos durante a missa da páscoa do colégio ele formava o coral para animar o evento. Nessa época eu já era músico com alguma experiência. Ele tocando o órgão da igreja matriz todo vaidoso fazia os sinais para o ensaio dos cânticos. E lá vou eu irritar o professor. Enquanto os alunos timidamente balbuciavam as primeiras frases musicais eu disparava em voz alta algo semitonado. Ele olhava como uma fera tentando descobrir no meio de tantos quem era o "engraçadinho". Finalmente após algumas tentativas eis que o coral desponta melodioso. O professor vitorioso soltava ares de satisfação.
quarta-feira, 26 de novembro de 2008
VELHOS CARNAVAIS
Nada de micaretas e axémusic, quem comandava o carnaval era o frevo pernambucano. Os dias que antecediam o carnaval era tempo de prender uma lata e um cordão de caroá untado em breu ao cubo da bicicleta e sair fazendo zoada pela cidade. Muitas vezes dezenas de garotos se reuniam e saiam pelas ruas. Máscaras e lanças de água, tinta e pó completavam a festa. Para os menores abastados, no domingo e terça-feira à tarde havia o baile infantil. Durante o dia os bares ficavam cheios, fobicas e charangas desfilando pelas ruas. As mocinhas correndo de cá para lá fazendo de conta que não queriam se sujar, mas na verdade buscavam que algum galanteador lambe-sujo chegasse perto e um novo casal estaria arrumado para o baile de logo à noite. Ao som dos clarins a banda de frevo anunciava o início do baile. A Atlética era pequena mais dava para a reduzida sociedade lagartense. Seu Bazinho e Seu Santinho Machado prendiam uma pequena toalha ao pescoço e no passo de ganso passavam toda à noite a circular o salão. Quando a manhã da quarta-feira de cinzas teimava em chegar era a hora da despedida e todos saiam pelas ruas catando o "tá chegando a hora". Teve um ano que todos os rapazes usaram macacões de frentistas de postos de gasolina o que terminou parecendo mais um baile operário. Aos poucos a influência da música baiana foi chegando e anunciando o nascimento do trio elétrico.
domingo, 16 de novembro de 2008
AQUILO SIM ERA SÃO JOÃO!
Antes do surgimento das grandes festas na região, os festejos juninos aconteciam nos sítios e bodegas. Havia um no coqueiro que era afamado. No sitio de seu Batistinha na Cidade Nova, na bodega do Gancho, no Caldo de Cana entre tantos que existiam. Nada de bandas, uma radiolinha aqui, um sanfoneiro ali, mas era animado até a fogueira apagar. Certa feita sai com Adonias Libório, seu irmão Jorge, Fernandinho Montalvão e Marcos Monteiro para uma rodada pelos forrós. Adonias dirigia um corcel branco do seu pai e que dificilmente poderia ser camuflado caso fosse necessário. Passamos pela Cidade Nova e descobrimos que havia um forró próximo a estrada que liga Lagarto a Simão Dias. Ao chegarmos lá a entrada era paga. Olhamos pelos “cobrogós” do salão e vimos que pouca gente estava presente. Nisso Adonias teve a maravilhosa idéia de jogar um busca-pé para esquentar a moçada. Ele entrou no carro e ligou o motor e lá foi à turma acender o bicho. Quando o burburinho começou já estávamos arrancando o carro. Só depois de alguns minutos‚ que notamos a bobagem realizada. Paramos na Praça Filomeno Hora, mas sentimos que seríamos descobertos logo e não é que o camburão da polícia começou a nos seguir! Depois de entrar em rua sair em Beco Adonias conseguiu esconder o carro na garagem e ficamos esperando a visita dos policiais. Mas para nossa felicidade eles não apareceram. Na noite de são João ao contrário, quase não havia forrós devido à quantidade de fogos que soltavam na cidade. A irresponsabilidade dos soltadores era clara e muita gente acabava sofrendo queimaduras que às vezes levava até a mutilação de membros.
quinta-feira, 13 de novembro de 2008
A CAIXA DÁGUA DESABOU
Era uma segunda-feira em plena matinê. A sala de projeção com um grande número de espectadores que assistiam atentos ao desenrolar da trama cinematográfica. O som da película vindo da boca do alto-falante que ficava atrás da tela sobressaía sobre qualquer outro. O cine Glória era um prédio enorme e sem conforto, milhares de cadeiras de madeira se espalhavam no grande espaço e mais a geral dividida pela sala de máquinas. Várias portas laterais e uns poucos ventiladores que só beneficiavam os que estavam próximos deles o que formavam núcleos quando não havia muitos espectadores. O sanitário masculino ficava num corredor do lado direito da entrada e somente os corajosos se aventuravam utilizá-lo devido a grande fedentina. A sua construção fora improvisada entre o muro e a parede interna do prédio e, na parte de cima foi construída a caixa d’água. Num momento qualquer do filme se ouviu um grande estrondo que não era da projeção e sem que alguém pudesse localizar a sua origem, todos saíram correndo imaginando que poderia ser o telhado do velho cinema desabando. Sapatos e sandálias se espalharam entre as cadeiras, gritos e corre-corre. Enquanto as pessoas se espremiam tentando sair pela catraca, alguém informou ter sido a caixa d’água que não suportando o volume da água rachou. Daí por diante ninguém conseguiu mais assistir o filme entre gargalhadas e risos assustados. Até o início dos anos oitenta Edinho manteve o prédio que em seu lugar foi construído o Bradesco. Depois ele edificou um outro ao lado de suas casa e hoje está desativado tambem.
O CINEMA ACABOU
Entre os anos trinta e setenta Lagarto possuiu cinema e hoje como em quase todas as pequenas cidades do interior esse importante tipo de diversão foi extinto. Zé Dantas Colecionava cartazes de filmes e sempre que podia acrescentava mais um - não sei qual a forma - Havia sempre um cavalete do cine Glória na esquina das Ruas Laudelino Freire e Lupicínio Barros anunciando a atração do dia. Os cowboys com Franco Nero, Giuliano Gema e Clint Eastwood eram os preferidos, mas também filmes de Maciste e gladiadores faziam a festa. No final dos anos setenta surgiram os de artes marciais e nas noites de segundas-feiras assim que as portas do cinema se abriam após a sessão, saia a molecada a imitar os golpes a gritos de “iáááá” e foi assim que os filmes passaram a ser chamados: filmes de iá. Surgiu também um herói que se vestia de branco e era denominado Santo que lutava contra zumbis e múmias. Faltar a um filme de Roberto Carlos e naturalmente a Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo seria quase pecado. Depois vieram os trapalhões com suas comédias pastelões. Claro que os filmes de Drácula eram ótimos para namorar. Quem não chorou ao ver Teixeirinha cantar o coração de luto? Dio come ti amo que fazia os casais de namorados se beijarem transformando o escurinho do cinema numa sessão de beijoqueiros? Hoje no local do Cine Glória ou cinema de Edinho está erigido o prédio do Bradesco, mas também existiu o Cine Pérola que pertenceu a Julio Modesto, uma construção bonita com espelhos na entrada uma bela escada circular que dava para a geral, todo decorado com pinturas egípcias e o mais bonito era quando o filme ia começar: as cortinas se abrindo as luzes se apagando e o som do "tuuuum", que se misturava ao Tema de Lara. Foi numa matinêˆ que eu beijei a primeira namorada. Na parte da geral havia algumas cadeiras que ficavam bem acima das outras e que eram exclusivas de seu Detinho da Radiofon. Hoje o prédio abriga a Caixa Econômica.
BICA VÉIA DE MIGUÉ
Figura pitoresca da cidade, Miguel era um cidadão que quando sóbrio fazia pequenos consertos em fogões das residências. Não sei por quantas, mas era só ficar bêbado que soltava suas máximas: "Migué da bica véia, Bica véia de Migué", "A força tá no cabelo", "Aluizo mandou matá Bichão". Quando a molecada não tinha o que fazer e resolvia mexer com o pobre, ele se danava e se mostrava lutador de capoeira. Entre uma pernada e outra lá ia ele pro chão. Quando o fogão da minha casa dava defeito Nanam aproveitando o instante em que ele estava sóbrio chamava-o para consertar. Ele sempre afirmava: Parei de beber, sempre sorrindo falava do mal que a bebida fazia, mas algum tempo depois olha Miguel: "Migué da bica véia!".
O LABORATÓRIO
Num certo tempo resolvi ser cientista e montei um laboratório num velho salão da casa dos meus pais. Nas bancas de revista estava sendo vendido um microscópio em fascículos e entrei nessa. Comecei a colecionar animais e insetos. Preá, lagartixa, aranha etc. e um rato branco o qual dei o nome de Godofredo lembrando o seriado Shazan & Xerife da rede globo. Fiz algumas experiências espaciais como a criação de um foguete que não decolou, uma luneta com lentes de óculos para ver a lua e dissecação de um pardal. Minha mãe morria de medo de ratos e como guardava seu material de artesanato no salão tomou o maior susto quando viu o Godofredo numa gaiola e mandou acabar com o laboratório. Foi uma grande tristeza, pois eu imaginava transformar aquele espaço num grande centro internacional de pesquisas. Possivelmente a humanidade perdeu um grande cientista. Mas minha mãe certamente não via dessa maneira.
domingo, 2 de novembro de 2008
A PREGUIÇA DA BICA
Era um privilegio para os lagartenses ter dentro da cidade uma área de mata preservada. A bica era um espaço verde e pantanoso, Grandes árvores cobriam a parte onde havia os tanques formando um clima agradável. Logo na entrada havia um pé de ingá com sua enorme copa produzindo suas vargens adocicadas. Todo proprietário de carro tirava algum dia para lavá-lo na bica. Era uma verdadeira terapia, pássaros cantando, bastante água potável brotando das raízes das palmeiras. A piscina velha era o lado sombrio da bica como também a lavanderia pública onde as mulheres cantavam lavando roupas. Na parte alta ficavam as figuras do índio e da sereia que povoavam a imaginação da garotada. Vez em quando a preguiça aparecia sobre as árvores e era motivo de visita. A população pedia aos políticos para tornarem aquele lugar mais humanizado e seu pedido foi atendido muitos anos depois com sua destruição e a criação do parque fechado e sem o menor cuidado com a preservação do ecossistema existente. E finalmente a megalomania política transformando a bica no paraíso dos irmãozinhos pobres. Hoje a bica é um caso de polícia. Muito dinheiro gasto e o abandono. Quem sabe a natureza não volte a ocupar seu espaço, caso o homem seja mais inteligente e deixe-a sobreviver?
PS: Antigamente quando um garoto era meio descansado e não atendia os adultos era chamado de "preguiça da bica".
GUERRA DOS MARIMBONDOS
Era um daqueles dias que não se tinha nada para fazer. A Av. Leandro Maciel palco das nossas estripulias era fruto da abertura de vários sítios e suas casas possuíam vastos quintais cheios de fruteiras. Estava assim montada a condição ideal para a proliferação de animais silvestres e naturalmente insetos. Vizinha a casa de João Capelão ficava a de seu "Cantide" que possuía uma varanda lateral onde os marimbondos costumavam fazer seus ninhos. Naquela tarde não tinha ninguém em casa então descobrimos uma boa e perigosa brincadeira. Diversas casas de marimbondos presas nos caibros enfeitavam o telhado. O objetivo seria matar um a um os valentes insetos. As nossas armar seriam apenas os chinelos. Bastou o primeiro ser lançado e eles logo partiram para defender seu patrimônio. Chinelo pra lá, corre pra cá, uma telha rachada no alto até que os inimigos foram vencidos. Pode parecer uma coisa boba ou mesmo antiecológica, mas naquela época tudo, tudo podia ser motivo de brincadeira, mesmo sabendo do perigo que poderíamos estar correndo. Que tal dar brasa para sapo engolir? jogar gato dentro dágua? Amarrar pitu em rabo de gato?
CORRA QUE A POLÍCIA VEM AÍ!
Eram pouco mais que às sete da noite quando apenas eu e Galo Rouco esperávamos a turma chegar. Sentados no muro da casa de João Capelão vimos duas garotas se aproximando. Pararam diante de nós e perguntaram se não queríamos dar uma "aliviada". Perguntamos o que elas queriam em troca e falaram que apenas alguns trocados. Acompanhamo-las até um quartinho que ficava dentro do mercado municipal. Era um lugar fétido com o esgoto passando por debaixo da cama. Dois girais juntos e um candeeiro mal iluminando, formavam aquela pequena alcova. A garota que galo Rouco pegou era meio amalucada, foi agarrando ele e jogando-o na cama. Depois de se acomodarem eu e minha companheira timidamente nos aconchegamos. Quando estávamos no bem bom. A doidinha levantou-se e perguntou: Cadê o dinheiro, primeiro o dinheiro. Celso tinha apenas uma moeda que ao pegar na calça a dita rolou até o esgoto. A garota ficou furiosa. Nisso alguém começou bater a porta. Era um policial amante da doidinha que gritava: fulana se você tiver com algum homem ai dentro eu mato os dois. No desespero resolvemos abrir a porta e sair correndo. Quando demos conta da nossa aventura já estávamos ofegantes na calçada da igreja matriz. Olha só! Depois do ato quase concluído ainda subir a ladeira do Rosário em disparada foi coisa para adolescente cheio de gás. Passado o susto ficamos sabendo que o policial estava bêbado e nem se mexeu do lugar. Quanto ao dinheiro da doidinha, ficou para outra oportunidade.
A BANDA DO SALETE
Quando estava iniciando a sétima série no Laudelino Freire tive um sério problema com o professor de OSPB, Sargento Farias que injustamente achou que eu tinha agredido uma garota. Procurei meus pais que conhecendo o meu comportamento ficaram do meu lado quando eu afirmei que não estudaria mais naquele colégio. Padre Mário apesar de não concordar comigo me pediu para que eu não saísse, mesmo assim preferi ir estudar em Aracaju. Quando Dona Anselma Montalvão soube do que se passara comigo solicitou a minha mãe que eu fosse matriculado no Salete. Ali encontrei a amizade e compreensão de uma pessoa que Lagarto não soube preservar. Quando se aproximava o mês de setembro do Anselma me pediu para organizar uma pequena banda marcial. Juntamente com seu esposo Fernando, começamos a vasculhar o sótão do colégio em busca de instrumentos deixado por Enio Motta quando ainda era proprietário daquele colégio. Conseguimos alguns instrumentos de fanfarra e uma corneta. Nesse período comecei a ensinar a garotado os princípios da música. Dona Anselma a cada dia se interessava mais pelo sucesso da banda e no dia sete de setembro debaixo de muita chuva a banda marcial do Salete chamou a atenção do público. No ano seguinte a equipe já estava mais preparada e agora com a presença de Marcos Monteiro, Adonias Libório, Epitácio, Fernandinho Montalvão e tantos outros. Começamos então uma verdadeira revolução musical na cidade. Novos toques, fardamento bem desenhado, chapéus bem trabalhados, introduzimos garotas portando flâmulas entre os músicos e fazendo evoluções. A banda passou a ser esperada no desfile e desbancando a tradicional fanfarra do Laudelino Freire. Finalmente fomos convidados a participar do primeiro concurso de fanfarras em Aracaju. Foram três representantes de Lagarto, O Salete, Laudelino freire e Silvio Romero. Quando O Salete perfilado na Praça Camerino viu chegar a banda do Atheneu todo garbosa tremeu na base. O maestro da banda adversária como que quisesse amedrontar os interioranos mandou executar um dobrado. Nisso Paulo chagas que já era nosso maestro não titubeou e gritou "vamos dá um esquento". Quando a banda do Salete além de bela muito afinada puxou o toque só víamos os músicos das outras bandas concorrentes correrem para nos assistir. Descemos a Rua Pacatuba na contra mão até o palácio do governo na Praça Fausto Cardoso onde estava armado o palanque com os jurados. Não deu pra ninguém, chegamos evoluindo e já quase gritando vitória. Poucas horas depois que as bandas de todo o estado se apresentaram foi anunciado o resultado. Salete em primeiro, Atheneu em segundo e Laudelino freire em terceiro. Foi uma explosão de alegria e choro. Corri para avisar seu Fernando que não teve coragem de viajar para acompanhar a competição e quando chegamos à madrugada lagartense fomos recebidos por ele, alunos e professores do Salete numa grande festa. Acho que foram os anos mais felizes de minha vida estudantil.
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