segunda-feira, 7 de julho de 2008

HISTÓRIAS PARA ASSOMBRAR

Elmo era a pessoa mística da turma, vivia falando de assombração, sendo o mais forte, com seu andar desengonçado, os ombros desproporcionais e a cabeça grande arredondada mais parecia uma mistura do corcunda de Notre Dame com o Frankstein. Lembro que naquela época ainda existia a calçada do fundo da igreja e era lá que as brincadeiras noturnas terminavam. Toda sexta-feira lá vinha ele com o rádio de pilha herdado do pai, que o carregava quando fora assassinado. Não sei bem ao certo qual a emissora, mas parece-me que era na Liberdade onde às onze horas da noite era transmitido o programa de histórias de terror, a garotada se reunia para ouvi-las. O silêncio da velha Lagarto ainda era presente e quando as histórias iam se desenrolando e o pavor tomando conta de todos, algum engraçadinho dava uma risada e falava que aquilo tudo era besteira, mas Elmo sempre afirmava ser verdade. Terminada a história e a Praça da Piedade já estava quase vazia e todos pretendendo voltar para suas casas, não conseguiam dar o primeiro passo, Elmo morava em frente à casa do finado Acrízio Garcez e se fazia de corajoso dizendo que já era hora de ir para casa. Eu morava na Praça da Piedade e era obrigado mesmo sem querer a olhar para as vidraças da igreja onde diziam aparecer os cavalinhos assombrados. Adonias morava na Mizael Mendonça e os outros se espalhavam pela vizinhança. Minha mãe sempre me salvava. Como era costume da família sentar em cadeiras na calçada da porta, quando os adultos se recolhiam e ela sentia falta de algum dos filhos, voltava para a calçada e nos chamava. Então, suspirando aliviado eu saía correndo em direção a casa dizendo ser os amigos uns molengas. Mas quando as histórias se transformavam em filmes na minha mente infanto-juvenil não conseguia dormir, e mais pavoroso ainda era ouvir as doze badaladas noturnas do sino da igreja e a voz de Elmo dizendo: é tudo verdade. As luzes da praça penetravam entre as cortinas finas do quarto trazendo a insônia e as lembranças das assombrações, vampiros e monstros. Finalmente o sono vencia o cansaço.