terça-feira, 1 de julho de 2008

JOGO DE BOLA NA TROVOADA

H velho reloje em dia não existem mais aquelas trovoadas que duravam três dias e mudava completamente a rotina das pessoas. Os seus efeitos eram sentidos muito antes. Depois de vários dias de intenso calor, a cidade ficava malevolente com pouco movimento nas ruas e vez outra uma forte rajada de vento balançava o pé de eucalipto que ficava na pracinha ao lado da Matriz, espalhando folhas por todo lado. O velho relógio com uma badalada seca avisava a passagem do meio dia e o sol já havia se escondido fazia algum tempo. Enquanto isso os redemoinhos brincavam e varriam o largo da praça. Finalmente ela chega: relâmpagos e trovões atingindo o oitão da igreja e distribuindo ruídos potentes. Os raios brilhando nas grandes vidraças e logo depois o aguaceiro desabando sobre a cidade. Foi numa dessas demonstrações de força da natureza que resolvemos brincar sob a chuva. Naquele tempo as pessoas temiam a trovoada como algo místico, os espelhos das casas eram cobertos com lençóis e algumas chegavam ao extremo de se esconderem embaixo da mesa da cozinha em busca de proteção. Meu pai tinha nos presenteados com uma bola dente-de-leite e aquele turbilhão caindo do céu e as ruas alagadas dariam um grande jogo de bola. Em frente à casa de Ribeirinho sempre formava uma grande poça devido à boca de lobo ser pequena e sempre entupia com as folhas mortas e papeis trazidos pela chuva. Ainda estávamos na porta de casa quando meu pai nos mandou entrar. Ficamos na varanda esperando uma oportunidade para escapulirmos, enquanto os relâmpagos cruzavam os céus. Joga bola pra lá, alguém pisava mais forte numa poça e tome água e lama. Às vezes o relâmpago parecia passar bem próximo da gente. O sino da igreja tocava marcando as horas e a chuva não dava trégua. Quanto mais estávamos encharcados mais a brincadeira ficava interessante. Finalmente meu pai sentindo a nossa falta, resolveu tomar a bola acabando de vez aquela perigosa e maravilhosa brincadeira.

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