terça-feira, 22 de julho de 2008

SONHO DE CINEASTA

Dlumesde pequeno sou apaixonado pela sétima arte, hoje as crianças não conhecem os cineminha de lâmpada de mercúrio, mas naquela época todos queriam ter um. Anselmo de João Briba tinha um feito de caixa de papelão e tiras de gibis, mas esse tipo não era o que eu sonhava, faltava a imagem projetada e poder ver nossos heróis e bandidos. Enfim, conheci certa vez um garoto mais velho que eu e morava na esquina da Rua Floriano Peixoto com a Ladeira do Rosário e seu pai era dono de uma bodega naquele local. Ele me chamou para conhecer seu projetor, fiquei encantado, tinha até fita de mulher nua, cowboys, Canal 100 e figurinhas Plic-Ploc que vinham no papel do chiclete e como o papel era semi-transparente conseguia ser projetado com alguma qualidade. Como eu não tinha dinheiro suficiente para adquirir o desejado projetor, acabei até revendendo garrafas, mas o capital era pouco, pois toda vez que eu conseguia o suficiente o esperto garoto dizia que tinha conseguido mais filmes e estava mais caro. Desolado pensei em desistir do projeto até que certo dia ao passar pelo cinema encontrei alguns pedaços de fita e então passei a projetar o meu próprio aparelho. Procurei entre os familiares velhas lentes de óculos que não lhes serviam mais. Consegui com seu Detinho da Radiofon uma lâmpada de mercúrio enorme - ele era o chefe da manutenção elétrica do município e sempre ficava com uma velha caminhonete pick-up verde em frente a sua casa onde guardava as lâmpadas retiradas dos postes. Fui até a marcenaria de seu Bebeto próximo à igreja Presbiteriana onde ganhei algumas sobras de madeira e compensado. Eu possuía um conjunto de ferramentas presenteado por meu pai e que era compostos de vários serrotes e formões. Caprichei na montagem e finalmente meu cineminha estava pronto. Para saberem como era feito o aparelho aqui vai a dica: Um retângulo de madeira com uma tábua no fundo, alguns furos na parte de trás para dissipar o calor, um furo retangular do tamanho de um frame de cinema para passagem da luz, uma lâmpada forte para clarear bem - quanto mais luz melhor a projeção - uma lâmpada de mercúrio sem a parte de alumínio e o miolo para colocação de água e se tornar uma lente de aumento e mais uma lente de óculos com grau forte para fazer as correções na projeção. Está pronto o cineminha. A partir desse dia comecei a vasculhar o lixo do cine Glória pulando pelo muro da Vila Meire e sempre conseguia alguns pedaços de fita. Às vezes durante a projeção de filmes a fita quebrava para minha alegria. Passei enfim a freqüentar a porta da sala do projetor e sempre que ele se distraia eu conseguia mais alguns pedaços. Claro que aquele pequeno roubo não traria prejuízo para ninguém, mas para mim era o material que faltava. Com o tempo já possuía um grande acervo de frames. Os que eu mais gostava eram do filme Quando as Mulheres Tinham Rabo, além deles eu possuía muitos cartazes feitos de recortes de jornais, principalmente do A TARDE da Bahia.. Algum tempo depois, meu irmão Deodoro ganhou um toca fita Philipps que eu usava para sonorizar as projeções. Como a molecada não lia bem eu fazia a dublagem. As projeções ocorriam sempre na cozinha da minha casa, mas às vezes levava o aparelho para casa de amigos. O nome do cineminha era Cine Plaza. Quando enfim veio a maturidade guardei as caixas com milhares de frames e o já velho cineminha. Alguns anos depois já morando em Paripiranga lembrei do brinquedo e fui procura-lo no velho salão da casa dos meus pais. Para minha tristeza só havia de remanescente uma velha lata de filmes cheia de retalhos do Canal 100. Desiludido, ali mesmo deixei-a e nunca mais procurei saber do seu destino.

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