terça-feira, 22 de julho de 2008

O CIRCO PEGOU FOGO

A Televisão ainda era coisa de poucos abastados, mas isso não era problema para a garotada matar o tempo e estimular a criatividade. Novos meninos tinham chegado à cidade. Eram os filhos de seus Netinho do bar, Edilton Anselmo e Junior. Vindos de Salvador possuíam hábitos bastante diferentes dos nossos, chamavam "arraia" de "pipa" e sabiam fazer um tipo só com papel que lhes davam o nome de periquito. De logo fizemos amizade e resolvemos certo dia organizar um circo nos fundos da minha casa. Na parte superior existia um grande compartimento o qual chamávamos de salão e que servia para guardar móveis velhos e outros “bregueços”. Era um ótimo lugar para explorar a imaginação juvenil. Organizamos as roupas e colocamos num armário que servia para guardar os moldes de desenhos utilizados por minha mãe para confeccionar lençóis e toalhas. Até aquela época eu nunca tinha visto sungas de nylon. Para tomar banho nos rios era com calção de algodão mesmo. Naquele dia ia acontecer um grande jogo entre o lagartense e o time de Itabaiana. Não podíamos faltar afinal às partidas sempre acabavam em briga das torcidas e, assistir é muito melhor que ouvir falar. O campo ficava onde hoje é o Colégio Laudelino Freire. Mas a nossa torcida acabou cedo. Lembro que em pleno jogo alguém nos avisou que o circo tinha pegado fogo. Saímos correndo e quando chegamos a casa as chamas já haviam sido controladas. Nanam comentava que Epitácio, meu irmão mais novo, tinha ateado fogo no armário e avisado que estava um "fogão". Concluindo a história, o circo terminou ali mesmo e a sunga de Edilton derreteu-se em meio às chamas. Quanto ao jogo foi um Deus nos acuda, o lagartense perdeu e os torcedores quebraram os ônibus da torcida adversária. A avenida contorno estava sendo calçada e o que não faltou foi paralepípedo para encher o transporte dos “ceboleiros”. Desolados ainda acompanhamos meu irmão Adherbal contar em detalhes o desfecho da confusão no estádio. Quanto ao resultado da partida? Acho que naquele instante era o que menos importava.

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