segunda-feira, 21 de abril de 2008

OS CONSTRUTORES DE ESTRADAS

Certa noite meu pai me levou com Deodoro para ver as máquinas da STAR abrindo a nova estrada que iria ligar Lagarto a Aracaju por via asfaltada. Chegamos à bica onde centenas de pessoas já assistiam as caçambas despejarem terra e os tratores arrastarem pela grota adentro. Quando as luzes miravam na nossa direção pareciam com luzernas querendo nos pegar. Já era tarde da noite quando retornamos e quase não conseguimos dormir, imaginando no dia seguinte iniciar a construção de uma grande rodovia no quintal da casa. Fizemos as caçambas com latas de óleo salada que eram retangulares e com vasilhames arredondados as máquinas de apilar. A meninada que já conhecia e era freqüentadora das brincadeiras em nosso quintal, logo compareceu para ajudar na construção. Algum tempo depois a borra preta do asfalta começava a cobrir a nova estrada e já era possível viajar alguns quilômetros deslizando sobre o silencioso piso negro. A população de Lagarto aproveitava para passear com a família até onde a estrada já havia sido concluída. Enquanto isso a nossa construção seguia em frente, retas, curvas e pontes começavam a formar o traçado da rodovia. Mas e a nossa ficaria de terra batida? Tentamos pintar, mas a tinta não aderia a terra. Então pensei em usar cinza de lenha e deu certo. A partir daí pegamos o carro-de-mão de Elmo e fomos ao moinho de milho que pertencia ao meu primo Nourival buscar o produto. Foi um sucesso. Criamos cidades fazendas e até uma padaria onde Santo meu primo comercializava os pãezinhos torrados em um forno construído por ele. A massa era comprada na padaria da viúva e ele dividia em diversas porções. Por muito tempo a brincadeira floresceu até que o novo estádio de futebol foi inaugurado e passou a receber as equipes de outras cidades para o confronto do campeonato sergipano. Destruímos tudo e começamos a construir o nosso campo. Era mais uma armação que se apresentava para preencher o tempo que a televisão ainda não ocupava e nos tornava imóveis diante dela. Naturalmente depois de algum tempo o campo de futebol não era mais novidade e seria substituído por outra brincadeira.

Um comentário:

Thiago Fonseca disse...

Po pai, uma pena que hoje as brincadeiras das crianças são tão passivas, sempre esperando o produto mais sofisticado chegar... muito bom ler suas crônicas, da uma inveja danada, parabéns mesmo.