quinta-feira, 15 de maio de 2008

AS FÉRIAS NO JENIPAPO

As férias de final de ano tinham um momento muito especial, passar alguns dias na fazenda Brejinho do meu tio Hipólito, ele e minha tia Florípedes nos recebia com um carinho todo especial, aquele cuscuz feito de milho ralado, o café torrado na chapa faziam parte da recepção. Lembro bem que num determinado ano eu e meu irmão Deodoro fomos dentro de um caçoá amarrado ao cavalo. Ao chegarmos lá os primos nos esperavam. Santo, Zé Romualdo e Evandro foram logo mostrar a fazenda de brinquedo construída embaixo de uma grande arvore. Pouco depois chegaram os filhos do seu "dotô“ chamando todos para ir até a mata derrubar um pau para construir uma gangorra. Querendo nos amedrontar mandaram colocar folhas de fumo no bolso para que a caipora não nos enganasse. À noite meu tio pói (Hipólito) mandou todos dormirem cedo porque diziam que uma mula sem cabeça andava rondando a casa. Ao amanhecer do novo dia fomos a pé até a fazenda brejinho de sua propriedade, onde Santo estava modelando uns bois de barro. Mais tarde fomos pescar e tive a sorte de fisgar um pequeno jundiá. Havia na fazenda um pomar de goiabeiras onde podemos apreciar alguns frutos e depois ir em direção à outra propriedade do meu tio num lugar conhecido por Sapucaia, onde existia uma grande plantação de cajus. De volta ao povoado era hora de degustar o delicioso almoço preparado por minha tia. À tarde fomos conhecer um belo minante conhecido por Taboca, ficava dentro de uma enorme grota onde a descida era difícil e vez em quando um escorregão não era surpresa. Surpresa na verdade tive quando cheguei até onde corria o riacho de águas cristalinas e cheias de pedrinhas brancas. As mulheres lavavam roupas semi-nuas o que me impressionou bastante. Evandro que era muito moleque trouxera um pneu velho do caminhãozinho do meu tio para brincar na ladeira, instantes depois lá vai o grito: "Sai da frente!" Tivemos de sair correndo, afinal o pneu poderia ter atingido alguém. Mais tarde meu tio mandou todo mundo ficar de castigo pelo mal feito. Depois de alguns dias e muitas traquinagens voltamos no caminhãozinho carregado de sacos de farinha. Quando já estávamos próximo a Lagarto, na passagem do riacho Urubutinga as águas trazidas pela trovoada tinham enchido suas margens impedindo a travessia. Passamos a noite dormindo sobre os sacos, porém ao amanhecer as águas haviam baixado e pudemos seguir em frente. Ao desembarcar na casa da minha avó, Deodoro saiu correndo na frente pra abraçá-la, mas uma grande travessa cheia de cocada quente estava sob a porta da cozinha e ele deixou sua marca. Uma bela pisada e a sola do pé queimada. Anos depois meus tios se mudaram para Lagarto. Uma infelicidade atingiu o experiente fazendeiro. Durante o trato com os animais no curral ele foi atingido num dos olhos por uma pontada de uma vaca e ficou cego. Foi um momento de tristeza para toda a família, afinal ele era muito querido e brincalhão. Após esse incidente ele vendeu suas propriedades e resolveu migrar com a família para o sul da Bahia onde montou uma serraria. Hoje eles moram em Feira de Santana, mas sempre que nos encontramos é sempre momentos de muita alegria.

Outro período bastante animado era quando o povoado realizava seus festejos natalinos. Isso já em meados de janeiro. Amigos e familiares enchiam a residência dos meus tios. Passeios na feirinha e a noite forró e namoro. Zé Preá, cunhado da minha tia Florípedes abastecia a casa com refrigerantes de gasosa, licores e toda sorte de bebida. Enquanto isso a meninada brincava nos brinquedos da pracinha. Cansados todos procuravam um cantinho para descansar e só eram acordados pelo cheirinho de café que transbordava da chaleira.

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