terça-feira, 27 de maio de 2008

ESSE ANO NÃO VAMOS TER FOGOS

Na véspera de São João, as portas e janelas das residências do centro da cidade eram cobertas por madeiras e papelões para evitarem a penetração de busca-pés. Algumas casas da Praça da Piedade possuíam grandes vidraças na frente como era o caso da nossa. Todos os anos lá iam eu e meu irmão Deodoro pedirmos algumas caixas no armazém J. Vasconcelos que ficava na esquina das Ruas Lupicínio Barros com Laudelino Freire. Cobríamos toda a vidraça da frente deixando apenas algumas frestas para assistirmos as guerras de fogos. A frente da igreja era um lugar apropriado, pois era largo e havia pontos de proteção. Lembro da fama de Santinho Machado, Nego de Pequeno e Andrevaldo que soltavam os busca-pés com classe e harmonia. A taboca incendiária formava belos aspirais antes de se chocar com alguma coisa ou explodir no ar. Quando algum não explodia ouvia-se as vozes ao longe gritarem: Solte o mijão cagão! Para quem não conhece o termo, mijão é o busca-pé que não estoura e cagão naturalmente quem o soltou. Apesar da violência da brincadeira era um espetáculo maravilho. Essa tradição não existe mais na cidade. Somente alguns garotos saem soltando pitus – busca-pés menores e sem limalha de ferro - amedrontando os poucos desavisados. Num certo ano, por castigo de tantas estripulias armadas por eu e meu irmão, meu pai disse que não teríamos fogos para soltar. Chegada à noite não armamos a tradicional fogueira. Ficamos dentro de casa sem ter o que fazer. Meu pai trabalhava na Coletoria Federal de Tobias Barreto e certamente não viria naquela noite. Quando já nos preparávamos para dormir mais cedo, eis que ele entra em casa trazendo um grande saco com milhares de bombinhas e fogos e foi aquela alegria. Providenciar madeira para a fogueira e tudo mais. Durante toda nossa infância nunca faltaram os fogos de artifícios, fogueiras, e os gostosos bolos, canjicas e pamonhas que minha mãe e Nanam faziam. Ainda hoje sou apaixonado pelos fogos de artifícios e para não esquecer o passado, nos dias principais dos festejos juninos, acendo alguns busca-pés e vulcões para alegrar a alma.

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