terça-feira, 27 de maio de 2008

NÃO VOU MAIS !

Eu estava entrando na adolescência quando sofri uma terrível queimadura. Era dia de São João e naquela época o cruzamento das ruas Senhor do Bonfim e Misael Vieira virava o “Arraiá do Primeiro Pingo”. Era organizado por Zé Monteiro proprietário do bar que ficava naquela esquina. Ao entardecer os primeiros busca-pés eram acesos e quem tinha muita coragem podia beber a vontade a cachaça colocada numa mesa bem no meio da rua. Eu acabara de chegar do colégio quando vi a molecada correndo até a esquina de Seu Nozinho. Solta o mijão cagão, gritavam. Aos poucos o movimento de fogos acalmou e resolvi da um espiadinha no arraial, quando já chegava perto da rua senhor do bonfim, Zé Pechincha vindo da Praça da Piedade lançou um estanciano em minha direção. Pula pra cá, pula pra lá até que o bicho explodiu. Então senti minhas pernas formigarem. Achei que era apenas o calor da limalha, assustado voltei para casa. Naquele instante minha mãe costurava juntamente com Dona Ester Matos os tecidos que iriam enfeitar o andor de Nossa Senhora da Piedade na festa de setembro. Ela falou para que eu ficasse em casa devido o perigo dos fogos e logo respondi: Não vou mais! Quando me dirigia ao sanitário para ver porque minhas pernas estavam dormentes, meu cunhado Hugo que estava sentado no canto da sala falou: Sua calça está pegando fogo. Ai foi o alvoroço, então compreendi que não era dormência mais uma terrível queimadura que tomava parte da coxa esquerda atingindo a genitália. Passei todo o período de férias na cama sem poder unir as pernas para não sofrer infecção, e pior, sem poder correr e brincar no quintal da casa. Eu morria de vergonha quando as amigas da minha mãe iam me visitar e acabavam dando uma ajudinha para passar pomada no pobre garoto. Uma delas era Lourdes de Pitu que dizia sempre: Eu lhe carreguei no colo por isso não tenha vergonha. Troquei suas fraldas e lhe dei banho. Pouco tempo depois já estava restabelecido e pronto para o São João do ano seguinte. Até pouco tempo atrás, quando alguém da família queria gozar de mim dizia: Não vou mais! E todos caiam na gargalhada.

Nenhum comentário: