sexta-feira, 23 de maio de 2008

OS DOCES DA MINHA AVÓ

Manhinha era como todos os netos chamavam nossa avó materna. Morava ela quase no final da Rua Acrízio Garcez, numa antiga casa de esquina e que nos fundos tinha um amplo quintal cheio de fruteiras. Eu costumava juntamente com meu primo Santo inventar todo tipo de brincadeiras, mas uma era da nossa preferência, ficar sentado nos galhos altos da goiabeira - principalmente no tempo das frutas - e ficar adivinhando que modelo de carro apareceria na Praça Silvio Romero. Tinha um pé carambola que vivia carregado e outro de groselha que ela fazia um doce de compota delicioso, além do resto da engenhoca de fazer caldo de cana e rapadura do meu avô. Outro passatempo e dessa vez delicioso era ajudar manhinha na confecção de balas de mel. Quando o doce estava no ponto ela ia fazendo as bolinhas de bala e nós íamos colocando o papel impermeável. Bastava ela tirar o olho da gente tome bala na boca, alguém chamava na cozinha e tome bala na boca. Finalmente desconfiada ou mesmo sabedora dos ajudantes que tinha começava a nos contar as histórias do fim do mundo. Acabavam ali os ajudantes. Morrendo de medo, logo íamos procurar outro divertimento menos tenebroso. Certo dia quando ela contava quem iria para o céu notou que Santo estava com a boca cheia de bala que não cabia mais, então ela falou: “Os brancos vão primeiro e os pretos se tiverem lugar sobrando”. Santo era moreno, aí aproveitei para tirar onda de sua cara e ele naturalmente não gostou. Saímos trocando tapas e pontapés. Minha avó não gostando do acontecido nos deu um castigo de ficar algum tempo sem poder freqüentar sua casa. No outro dia, olha nós de volta e ela fazendo de conta que esqueceu o castigo.

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