sábado, 10 de maio de 2008

A PAPEIRA

Era um sete de setembro. Vestidos de caçadores eu e meu irmão Deodoro marchávamos no desfile estudantil ao lado da chapeuzinho vermelho, da vovó e do lobo. Uma manhã quente onde as ruas das cidades repletas de espectadores e estudantes abrilhantavam a data da independência. Eu era um garoto de saúde frágil e naquele dia sentia dores no corpo, mas ninguém acreditava achando que eu estava com vergonha de sair fantasiado. Naquela época os colégios circundavam a Praça da Piedade. Quando estávamos próximos a nossa casa, Deodoro começou a passar mal e a professora o mandou sair da fila e o levaram até lá. Eu chorava pedindo pra ir também, mas não fui atendido. Lembro com meus olhos de criança quando avistei minha mãe no andar da casa, e só. Quando fui acordado já estava em seus braços delirando de febre. Passamos alguns dias de cama sofrendo a terrível papeira. O desfile estudantil é sem dúvida o evento mais importante do município, competindo inclusive, com a procissão da Padroeira. Acredito que desde o final dos anos cinqüenta ele acontece. Quando meu irmão Adherbal era presidente do Grêmio Escolar do Ginásio Laudelino Freire, organizava festas para aquisição dos instrumentos que formariam a Banda Marcial. Minha irmã Neném foi princesa Izabel e Baliza. Eu saí de escoteiro, caçador e até na “rabada”. Mas como ficar no último pelotão do colégio era sofrer todo tipo de chacota, tratei logo de aprender um instrumento e participar da Banda.

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